16.5.11

Artigo 22 - A Batalha de Joana D'Arc

Texto e ilustrações de Clóvis Vieira

            Certa vez tive um sonho. Eu cavalgava paralelamente a uma fileira de soldados com roupas medievais. Uma semana depois, tive outro sonho com o mesmo exército, agora acampado. Agora eu descia a pé por uma colina em direção a um vale. Em minha direção vinha um grupo de cavaleiros tendo a frente uma "menina" segurando um estandarte. 
            Rosto infantil, cabelos cortados na altura das orelhas, despenteados e empoeirados, o que impedia de definir a cor, pareciam acinzentados. Olhos claros, boca delicada, maxilar inferior levemente pronunciado nos lados do queixo, dando-lhe forma triangular. Nariz também delicado, com a ponta separada em duas partes, porém não muito pronunciadas. 


            Chamou-me também a atenção, o estandarte - branco e vermelho - com desenhos de círculos e quadrados. As figuras dividiam o estandarte em quatro partes.
            Posteriormente o estandarte e as referências históricas, demonstraram haver um desenho diferente da minha visão. A única semelhança indicava quatro elementos: duas flores de Lis, uma espada e uma coroa. Ignoro a razão do desenho de círculos e quadrados, mas, um quadro de Ingres - que nunca vira antes - representa o estandarte como em minha visão. Sem possibilidades de poder pesquisar mais, abandonei a questão.
            Nesta visão, Joana D'Arc estava com uma malha metálica trançada, e no peito, uma proteção de metal liso, que se moldava ao corpo até a cintura.
Percebi que aqueles sonhos me remetiam à uma vida passada que tivera na França, e tinha sido contemporâneo de Joana. Via-me como um soldado lutando a seu lado.
Em outro sonho eu me vi novamente naquela vivencia. Caminhava por uma vila vi uma mulher vindo em minha direção.
 Uma "voz" disse-me:  
 __"Esta é sua mãe Bárbara".


            Olhava-me com extrema ternura e percebi nela um sentimento de perda. A principio pensei que Bárbara fosse um nome, mas depois percebi que era a referencia de uma mulher não cristã, uma camponesa sem origem nobre. Eram chamados de bárbaros os povos não latinos. Surgiu então a imagem de um cais, onde estivadores trabalhavam. Aproximei-me e novamente ouvi a mesma "voz" que disse: __"Este é seu filho Jean".
            Vi um rapaz de aproximadamente quinze anos olhando-me com censura, talvez por tê-lo abandonado ou por ter me afastado, ou por não lhe dar muita atenção. Fiquei envergonhado e as imagens se dissiparam.
            Todos esses sonhos fizeram com que eu pesquisasse sobre este episódio da história que pouco conhecia. A imagem que tinha de Joana era a de uma mulher entre trinta e quarenta anos, rosto ovalado, como Ingrid Bergman que protagonizou Joana em um filme. Eu a imaginava uma mulher guerreira, expressão forte, diferente daquela menina, que vira no sonho; pré-adolecente, de baixa estatura e rostinho meigo. Essa imagem se confirmou. A história registra exatamente como a vi o sonho. Seu apelido era “Puccele”, traduzindo; “Pulguinha”, devido sua baixa estatura. No meu sonho ela estava assustada em meio à batalha o que também há referencias históricas. Posteriormente em trabalho de regressão à aquela vivencia, com auxilio de uma terapeuta, senti uma grande revolta com os nobres franceses que estavam usando a menina em prol de seus próprios interesses e não os da França. Já naquela encarnação, tinha consciência disso.
            Consegui recuperar alguns momentos e compreender alguns aspectos do episodio independentemente da historia registrada. Joana era vista, tanto pelo povo como pelo exército, como uma pessoa ligada a Deus, tornando-se inacessível. Um dos comandantes fazia a proteção pessoal de Joana. Ele impedia aproximação de qualquer um. As reuniões com os comandantes era uma exceção. Joana era norteada pela sua missão Divina. Em uma das imagens, vi este mesmo comandante cavalgando sorridente, prazeroso com a guerra. O que era triste para mim, para ele parecia um passeio. Este homem, próximo a Joana, me causava terror.
Por algumas semanas foi aberto um canal a esta vivência e as lembranças iam aos poucos sendo recuperadas. Recordei que era responsável pela estratégia de batalha de nosso exército. Não era o oficial mais graduado, pois havia um grupo de oficiais de mais alta patente, aos quais eu prestava obrigações. Em uma das imagens, encontrava-me em uma tenda sentado a uma mesa de madeira, e a minha volta estavam estes comandantes que apreciavam meus desenhos com os planos de combate. Dizia-lhes que não se preocupassem, pois a batalha estava ganha, ali, no papel.
            Estava extremamente confiante. Tínhamos Joana, que levantaria a moral de nosso exército. Era temida pelo inimigo e amada por nós, o que nos dava vantagem, pois lutaríamos mais motivados. Somado ao que considerava a principal garantia: a ligação de Joana com o "Divino".
            Lembranças continuaram a surgir. Como as de colocar Joana atrás das linhas inimigas, em investidas rápidas, e assim explorar-lhes o medo. Era extremamente difícil para os ingleses lutarem tendo Joana e o estandarte - mais visíveis durante a batalha às suas costas, e mais fácil para nós os franceses, porque lutávamos com os desatentos ingleses preocupados com Joana.
            Concentrávamos maior força em um determinado ponto e por ali infiltrávamos uma guarnição com Joana fortemente protegida. O estandarte tremulava atrás das linhas dos ingleses - já dentro da fortificação. Os ingleses, atônitos, desconcentravam-se. Esta estratégia contribuiu para que houvesse um número pequeno de baixas, preocupação constante de Joana, que queria vencer a batalha sem mortes.
            Causou-lhe profunda comoção ver os primeiros mortos e chorou desesperadamente. 
            Minha posição nas batalhas era geralmente na retaguarda, orientando o avanço das guarnições através de bandeiras ou flâmulas. Uma das lembranças revelou o inimigo entrincheirado, nosso exército atacando-o, tendo à frente a guarnição de Joana.



Meu interesse se aprofundou, Interessado no episódio comprei um livro com uma biografia de Joana D'Arc. Foi através dele que tive o primeiro contato com esse episodio da história. Vi confirmada minha imagem de Joana, não de uma mulher adulta e guerreira, mas de uma adolescente, convicta em sua missão, mas sem nenhuma afinidade com a guerra.
            Joana surgiu quando França e Inglaterra estavam em conflito no que se convencionou chamar de "Guerra dos Cem Anos" O Trono da Inglaterra, por laços de parentesco, reivindicava o Trono da França. Em 1415 o rei da Inglaterra, Henrique V, derrota o exercito Frances. Em 1420 assume o trono da França Catarina. Carlos, filho do rei, chamado "o Delfim", com direitos a sucessão, foi deserdado e declarado bastardo. Abandonou, então, a capital e estabeleceu-se em Pontiers com sua corte. O desejo de expulsar os Ingleses uniu o Sul da França em torno do Delfim com a finalidade de conduzi-lo ao trono.
Orleans, importante cidade da região setentrional, foi sitiada pelos ingleses, e quase sucumbe. Neste ínterim, em Lorraine, Joana, pertencente à uma família de camponeses, ouve vozes que lhe pedem para dirigir-se ao Delfim, engajar-se em seu exército, expulsar os ingleses e coroá-lo rei da França. As "vozes" que a orientavam eram identificadas por Joana como sendo as de São Miguel, Santa Catarina e Santa Margarida. A "Virgem de Lorreine" - como era chamada - convence o Delfim de sua Divina missão.
Havia uma profecia, que Joana desconhecia, sobre a libertação da França ser efetuada por uma virgem.
            Engajada no exército foi levada para a cidade de Orleans, onde se uniu ao filho do duque de Orleans, Dunois, "O bastardo de Orleans", como era conhecido. Dunois era o responsável pela defesa da cidade sitiada. Joana foi recebida e aclamada em Orleans, onde era aguardada com ansiedade. Cavalgou pela multidão empunhando seu estandarte, confeccionado com a orientação das "vozes".
            Após alguns meses de luta, os Ingleses foram derrotados, Orleans e outras cidades próximas libertadas, e  Carlos VII - o Delfim -  coroado em Remis, cumprindo-se a profecia.
            A vitória não foi total porque Paris e Borgonha ainda ficaram ao lado dos ingleses. Joana queria continuar a luta e expulsar totalmente os ingleses do solo francês. O Delfim, entretanto, decidiu agir politicamente, negociou uma trégua e dispensou o exército. Joana, acompanhada de alguns soldados, continuou a luta, mas sem o apoio do Delfim e da totalidade das tropas francesas foi capturada pelos ingleses ocupantes. Foi julgada e condenada a morte na fogueira. Morreu segurando um crucifixo, clamando por Jesus.
            Alguns anos mais tarde, os Ingleses foram completamente expulsos da França e o país foi unificado. Posteriormente Joana foi reabilitada e, em 1920, canonizada pela igreja católica.
            Pela história, fiquei sabendo que o responsável pela estratégia e defesa de Orleans era Jean Dunois, conhecido como o bastardo de Orleans, por ser filho do duque com uma camponesa.
            Pensei que, talvez pudesse ter sido esse capitão. As referencias se encaixavam.
            Algum tempo depois, sonhei que estava em um castelo medieval em uma passarela entre duas torres circulares. No sonho era um garoto ainda e brincava no alto dos muros. Uma mulher no solo veio correndo e gritou: __ Dunois! Dunois! C’est la guerre! C’est la guerre!
            Ao ouvir os gritos corri e desci por uma escada em caracol. No final da escada, embaixo dela havia dezenas de espadas amontoadas. Todas enferrujadas.
Peguei uma e sai correndo pretendo me engajar na luta. Procurei saber se a espada do meu sonho era do modelo da época e sim, o desenho dela conferia com as referencias históricas.
            Procurei referências sobre Jean Dunois. Ele nasceu em 1402. Em 1415 – ano da invasão de Henrique V Dunois – Batalha de Azincurt - estava com 13 anos. Idade que tinha no sonho.
            Outra informação que coincide é sobre seu filho Jean que me foi mostrado no sonho. Dunois teve quatro filhos; Marie, Catarine, Francisc e Jean.
            Fiz um retrato mediúnico daquela vivencia. Imaginei como eu seria aos 30 anos.  Enviei o retrato para uma amiga que morava em Paris. Ela gentilmente fez uma pesquisa sobre o episódio e me enviou uma cópia do retrato pintado de Dunois aos cinqüenta e dois anos. Comparei-o com o desenho que fiz verifiquei semelhança.


Retrato mediúnico de Jean Dunois aos 30 anos


Jean Dunois aos 52 anos - Pintura França

            Encontrei um texto, em que historiadoras levantam suspeitas sobre a possibilidade de Dunois também ouvir "vozes" que lhe orientavam. Há referencias que Dunois estava confiante na vitória. Alardeava que “A virgem de Loraine viria em socorro a Orleans”.
            Esta experiência, tambem despertou-me para a possibilidade de reencontrar os espíritos, agora reencarnados protagonistas daquele episódio. O primeiro que detectei foi o que encarnou "Luiz XI", filho do Delfim Carlos VII, sucessor do reino da França. Em sua última encarnação conhecida foi Alberto Eliezer Filho já mencionado neste livro. Seu filho deu-me cópias, psicografadas, de cartas endereçadas a ele, assinadas pelo compositor francês do século XIII Frederick Choppin, uma delas já transcrita em capitulo 

anteiror. Dentre outras informações, revelava-lhe ter sido Luiz XI. Heis o trecho:

 ...Tu as en outre ton Passe, um Passé de siecles, toute une serie d'incarnations, pendant lesquelles tu as atteit quelques fois des positions sociales tres elevees, comme par exemple, lors-que tua as ete Luis XI roi de France, qui t'assure la possession d'un bagage de connaissance et d'experience qui reste au fond de toi, et qu'il te sera facile de faire monter a la surface du conscient  par la  meditation et la concentration.
                                                       Frederick Choppin
(Portugal, 1954)

            Encontrei uma breve biografia de Luiz XI e verifiquei que ele combateu o pai – que, apesar da grande contribuição de Joana para que ele fosse coroado, deixou-a ser executada - e sua corrupta corte, afastou-se dos nobres e aproximou-se dos pobres, com quem governou. Deu os contornos finais da Nação Francesa com sentido de Pátria, instalou meios de comunicação, como os correios, e estabeleceu a indústria da seda. Sua atuação foi decisiva para acabar com o sistema nepótico que prevalecia no governo. Procurou ser um meritocrata.
            Diante desta revelação, percebi que a coroação de Carlos VII ainda não era a finalidade da luta travada por Joana D'Arc, porque a espiritualidade havia preparado o espírito que encarnou Luiz XI, para reinar, e este sim, de acordo com princípios, valores e virtudes morais e éticos e humanistas.
            Outro aspecto relevante é o caráter e a personalidade de Alberto Eliezer Filho – Luiz XI -. Espiritualista e homem de inteligência incomum e memória ainda mais incomum, memorizava a página de uma lista telefônica e a recitava do começo ao fim e do fim ao começo, sem dificuldades. Exímio pianista, amante da obra de Franz Lizt, compositor que executava com rara destreza. Frederick Choppin foi amicíssimo de Franz Lizt.
            Apesar de sua erudição, fazia-se acompanhar por pessoas humildes, como em sua vivência como Luiz XI.          
            Como última abordagem desta experiência cito uma ocasião em que, após o almoço, senti uma irresistível vontade de ir a uma livraria. Não tinha intenção de comprar nenhum livro. Mas meu corpo foi tomado por um torpor, minhas pernas pareciam ter vontade própria. Entrei na livraria e intui que deveria comprar um livro. Mas qual? Olhava as estantes e nenhum deles despertava-me interesse. Estava desistindo quando vi, um pouco escondido, um livro. Seu titulo: JOANA D'ARC (MÉDIUM), de LÉON DENIS. Não tive dúvidas, comprei-o.
            No livro encontrei mensagens enviadas através de médiuns franceses no final do século XIX e início do século XX, onde o Ser que encarnou Joana D'Arc revelou experiências preparatórias a aquela vivência no século XV. Narra aspectos de uma vivência entre os celtas e suas visões quanto ao seu futuro e o da França.
            Transcrevo a seguir uma das mensagens psicografadas, onde ela narra o primeiro contato com entidades, revelando-lhe a sua futura missão na encarnação como Joana D'Arc:
                      
     Remontemos, por instantes, ao curso das idades, a fim de aprenderdes o caminho que percorri, preparando-me para transpor a etapa dolorosa que conheceis. Múltiplas foram as existências que contribuíram para meu progresso espiritual. Decorreram na velha Armorica, sob o zimbório dos grandes robles seculares, cobertos do visco sagrado. Foi lá que, lentamente, me encaminhei para o estudo das leis do Espírito e para o culto da pátria Oh! Entre todas, benditas as horas em que o bardo, com seus cantares alegres nos fazia palpitar os corações e nos abria os olhos para a luz, permitindo-nos entrever as maravilhas do infinito! Ensinava-nos então que o passar da morte, a ressurreição gloriosa do Espírito, no espaço, representa uma simples transformação, sombria ou luminosa, conforme o homem se conduziu nesse mundo: ou seguindo a estrada da justiça e do amor, ou deixando-se dominar pelas forças avassaladoras da matéria. Fazia - nos compreender as leis da solidariedade e da abnegação; instruía-nos sobre o que era a prece dizendo: "Orar é triunfar"; a prece é o motor de que o pensamento se serve, para estimular as faculdades do Espírito, as quais, no espaço, constituem a sua ferramenta. A prece é o ímã poderoso de que se desprende o fluído magnético espiritual, que, não só pode aliviar e curar, como também descerra ao Espírito horizontes sem fim e lhe dá azo de satisfazer ao desejo de conhecer e aproximar-se continuamente da fonte divina, donde manam todas as coisas. A prece é o fio condutor que põe a criatura em relação com o Criador e com seus missionários.
     Um dia, compenetrada destas verdades, adormeci e tive a seguinte visão: Assisti, primeiramente, a muitos combates, oh! impossível de serem evitados por efeito do livre arbítrio de cada um; mas, sobretudo, por motivo do amor ao ouro e a dominação, os dois flagelos da humanidade. Depois, descortinei, claramente a grandeza futura da França e seu papel de civilizadora no porvir. Deliberei consagrar-me muito particularmente a essa obra.
      Logo me vi rodeada de uma multidão simpática, que na maior parte chorava e deplorava minha perda. Em seguida, o veneno, o cadafalso, a fogueira passam vagarosamente por diante de mim. Senti as labaredas devorando-me as carnes e desmaiei!... Vozes amigas chamaram-me a vida e me disseram: Espera! A falange celeste que tem por missão velar sobre este globo te escolheu para secundá-la em seus trabalhos e assim acelerar o teu progresso espiritual. Mortifica tua carne, afim de que suas leis não possam ser obstáculo a teu Espírito. A provação será curta, porém rude. Ora e a força te será dada: colherás de tua obra todas as bênçãos nos tempos vindouros. Assegurarás a vitória da fé arrazoada contra o erro e a superstição. Prepara-te para fazer em tudo a vontade do Senhor, a fim de que, chegada a ocasião, tenhas adquirido bastante energia moral para resistir aos homens e obedecer a Deus! Seguindo estes conselhos, os mensageiros do céu virão a ti, ouvirás suas vozes, eles te guiarão e aconselharão: podes ficar tranqüila, não te hão de abandonar! Como descrever o supremo anelo que se apoderou de mim! Senti o aguilhão do amor penetrar todo o meu ser. Não tive outro objetivo que não fosse: trabalhar pela libertação espiritual deste país abençoado, em que acabava de saborear o pão da vida e de beber pela taça dos fortes. Essa visão foi para minha alma celestial viático.
                                                         Paris 1898.




Retrato mediúnico de Joana D’Arc
    


Em outra mensagem de 1909 ela narra acontecimentos relativos a sua missão como Joana e como se sentiu pelo tratamento que lhe foi dado pela Igreja que a condenou.
                  
    Doce me é a comunhão com os que, como eu, amam a Nosso Senhor e Pai - e não me dói a visão do passado, por isso que ela me aproxima de vós e a lembrança de minhas comunicações com os mortos e os santos me faz irmã e amiga de todos aqueles a quem Deus concedeu o favor de conhecer o segredo da vida e da morte.         
      Rendo graças a Deus por me permitir transmitir-vos minha crença e minha fé e por poder ainda dizer, aos que sabem um pouco, que as vidas que o Senhor nos dá devem ser utilizadas santamente, a fim de estarmos em sua graça. Devem ser-nos gratas as vidas em que possamos desempenhar a tarefa que o todo poderoso Juiz e Pai nos assinou e devemos bendizer o que de suas mãos recebemos.
      Ele sempre escolheu os fracos para realizar seus desígnios, porquanto sabe dar a força ao cordeiro, conforme o prometeu; mas, este não deve misturar-se com os lobos e a alma inflamada pela fé deve guardar-se das ciladas e sofrer com paciência todas as provações e castigos que ao Senhor apraza dar-lhe.
      Ele nos ministra a sua verdade sob as mais variadas formas, porém nem todos penetram a sua vontade. Submissa as suas leis e procurando respeitá-las, mais acreditei do que compreendi. Eu sabia que conselhos tão salutares não podiam ser obra de inimigo e o reconforto que me deram foi para mim um arrimo e a mais doce das satisfações. Jamais soube qual era a vontade remota do Senhor. Ele me ocultou, por seus enviados, o fim doloroso que tive, compadecido de minha fraqueza e do medo que o sofrimento me causava; porém, chegada a hora, recebi, por intermédio daqueles enviados, toda a força e toda a coragem.
     É-me doce e delicioso volver aos momentos em que primeiramente ouvi minhas vozes. Não posso dizer que me amedrontei. Fiquei grandemente admirada e mesmo um pouco surpreendida de me ver objeto de misericórdia divina. Senti subitamente, antes que as palavras me houvessem chegado, que elas vinham de servos de Deus e grande doçura experimentei em meu coração, que afinal se aquietou quando a voz do santo ressoou aos meus ouvidos. Dizer-vos o que se passava então em mim não é possível, porque eu não vos poderia descrever a minha alegria calma e intensa; mas, senti tão grande paz que, ao partirem os mensageiros, me julguei órfã de Deus e do Céu. Compreendi um pouco que a vontade deles devia ser a minha; porém, desejando imensamente que me visitassem, admirei-me das ordens que me davam e receei um pouco ver realizados os desejos que exprimiam. Parecia-me, certamente uma bela, obra tornar-me eu a salvaguarda da França; mas, uma donzela não vai para o meio de homens d'armas. Finalmente, na doce e habitual companhia dos seres que me falavam, cheguei a ter mais confiança em mim própria e o amor que sempre consagrei a Deus me indicou a conduta a seguir, pois que não é, decorosa a rebelião contra a vontade de um pai. Foi-me penoso, embora também motivo de alegria, o obedecer e, enfim, fiz primeiramente a vontade de Deus. Por essa obediência sou feliz a isto, também acho uma razão para fazer o que Deus quer, para perdoar aos que foram instrumento de minha morte, crente de que não tinham ódio a minha alma, tanto que lhe deram a liberdade, mas sim a obra que era por mim executada.
     Tenho sido essa obra abençoada por Deus, eles eram grandemente culpados; também nenhum ódio lhes tenho na alma. Sou inimiga de tudo o que Deus reprova, da falta e da maldade. Todos reentrarão na graça de Deus, mas a lembrança do passado não lhes apagará. Choro o ódio que plantaram entre seus irmãos, o mau grão que semearam no campo da Igreja e que levou esta mãe que tanto amei a procurar mais a fé* do que o amor do perdão. É-me grato, entretanto, vê-los emendar-se a confessar um pouco o erro que cometeram; porém, não o fizeram como eu desejaria* e minha afeição a Igreja se desligara cada vez mais desta antiga reitora das almas, para se dar tão somente ao nosso doce e gracioso senhor.
                                                                  Jeanne
                                                         
          Esta experiência demonstrou a construção da França pela intervenção explícita dos planos superiores. Desde o trabalho com os Celtas-Gaulezes, impermeáveis as influências do Império Romano - Dominados , até o grupo de filósofos franceses, que trouxeram ao mundo as atuais idéias de civilização. E tendo ainda um efetivo impulso espiritual com Alan Kardec e outros médiuns franceses. Neste século, porém, a França cedeu o lugar a outro povo, mas com os mesmo espíritos que fizeram dela grande entre as Nações. Agora o Brasil.